Em defesa da Catedral

  A crise que vem se arrastando há tempos envolvendo a catedral metropolitana de Ribeirão Preto e a prefeitura municipal é efeito da falta de bom senso e da necessária transparência nas ações das autoridades municipais ligadas ao assunto.

Aquela catedral vem sofrendo fissuras e rachaduras, já há algum tempo, em consequência do excesso de transito, especialmente de veículos pesados, como os ônibus coletivos, no quadrilátero em seu entorno, conforme atestado em relatório técnico de conceituada empresa de engenharia. Evidentemente, se houvesse vontade política e boa capacidade de entendimento, as autoridades responsáveis já teriam simplesmente mudado o trajeto dos ônibus municipais para as ruas vizinhas, até que soluções de engenharia pudessem ser colocadas em prática e finalmente adotadas as devidas medidas saneadoras sobre a questão.

Ocorre que o assunto infelizmente não caminhou nesta razoável e plausível direção, mas sim no rumo dos debates inócuos que efetivamente não levam a lugar algum, a não ser para o descaso e a omissão.

Apenas uma centelha de luz ainda ilumina o horizonte, através de sério e oportuno depoimento do vereador Rodrigo Simões, digno presidente da Comissão especial de estudos da Câmara Municipal, cuja finalidade é de acompanhar a implantação dos terminais de ônibus nas praças da Catedral e das Bandeiras. Tendo como relator o digno vereador Cícero Gomes da Silva, esta comissão concluiu contrariamente à manutenção dos ônibus no entorno da Catedral, por entender que o local indicado é inadequado para tal fim. Aliás, em resposta a requerimento do vereador Rodrigo Simões sobre estudo técnico dos níveis de decibéis da Catedral, a engenharia da Prefeitura Municipal afirmou, depois de fundamentada análise, "que os ruídos extrapolam o nível de aceitabilidade presente na norma vigente"; prosseguindo conclui que "as vibrações podem comprometer a estrutura das construções, que é o caso do prédio da Catedral, agravado pela rasa fundação estrutural da edificação".

Este é o quadro que se apresenta, requerendo a pronta atitude consciente de todo o cidadão de bem, no sentido de ajudar à preservar este templo divino maravilhoso e esta obra arquitetônica magnífica tombada pelo patrimônio histórico, e que não é propriedade de nenhuma autoridade, seja ela do município ou não, mas sim pertence ao inestimável patrimônio da gente de Ribeirão Preto.

A Catedral Metropolitana, cujo padroeiro é São Sebastião, teve sua construção iniciada em 03 de março de 1904 e terminada em 1920. Construída em linhas góticas e estilo romântico, possui maravilhosos vitrais coloridos em seu interior e afrescos pintados em 1917 por Benedito Calixto.

Portanto, esta igreja de inestimável valor religioso e histórico, não pode e não deve ser colocada em risco pela incompetência política ou administrativa, ou qualquer outra desculpa que venha a postergar as urgentes providencias reclamadas. Acredito que as autoridades municipais não pretendam carregar sobre os ombros o pesado fardo das conseqüências danosas que poderão advir.

A classe produtora rural, que temos a grata honra de representar, junta-se à grande maioria da população urbana para apelar, veementemente, pela preservação e pronta restauração da nossa catedral metropolitana.

Espero sinceramente e quero acreditar que a insensatez e a insensibilidade política não levem as autoridades municipais ao descalabro de verem primeiro ruírem as estruturas de nossa catedral e conseqüentes danos a este magnífico projeto arquitetônico para, só depois, retirar os ônibus de seu entorno.

Só o tempo tem a resposta! (Joaquim Augusto S.S. Azevedo Souza é presidente da Associação Rural e Sindicato Rural de Ribeirão Preto)